Relato da @irisalba_Lrd-E

Ainda estou pensando nas melhores palavras para descrever a experiência que eu tive. Um tipo de presente de natal, atrasado e inesperado.

E eu acredito que o elemento surpresa dessa história, contribuiu bastante para a intensidade dessa experiência. Eu achava simplesmente que iria passar as festas de fim de ano com meu dono. É claro que nada pode ser calmo e comum quando você aceita estar ali, do lado da pessoa sádica, mas eu achava que não teria nada que eu já não estivesse acostumada.

A casa está em reforma faz um mês. Aquelas reformas grandes, que geram transtornos, sujeira e desconforto. Sem planejamento nenhum, o clima já estava montado.

Eu cheguei e meu dono anunciou:

"Você queria uma experiência de cárcere privado, não é? Fiquei pensando se não pode ser agora….”

Ele abriu a porta do antigo quarto dele e me mostrou as condições. Achei perfeito. O chão estava com aquela fina crosta de poeira, as paredes recém rebocadas ainda sem pintura. Não tinha nada dentro, apenas um antigo móvel de escritório (aquele arquivo antigo).

Para a experiência ser convincente, fui proibida de beber água ou de comer. Fui amarrada em diversas camadas de cordas por cima de diversas camadas de roupas( o quarto não tinha ventilação).


No primeiro dia, a experiência foi “limpinha”. Ele me deixou sentada na cadeira(também como um tipo de homenagem às mocinhas indefesas amarradas e amordaçadas em cadeiras, dos filmes clássicos). Parecia bem “mamão com açúcar”. Eu só tinha que ficar quietinha, administrar a fome e a sede, lembrar de respirar e…pronto.

E então, tudo piorou ( ou melhorou?).

Senti o peso dele em cima de mim. Ele sentou no meu colo. E começou a colocar camadas e mais camadas de tecido no meu rosto, dificultando a respiração.

Preciso fazer um “disclaimer”:

Eu adoro privação de sentidos. Mas eu adoro porque é algo que desperta um medo primitivo em mim, que nada tem a ver com claustrofobia. Eu sinto medo de ficar indefesa, de não poder lutar pela minha vida, caso ela esteja ameaçada. Ao mesmo tempo que relaxo profundamente a ponto de permanecer horas ali, eu tenho alguns episódios de pânico, quando percebo que posso ficar sozinha, quando percebo que as camadas e camadas de obstáculo a respiração vão se acumulando…

Porque sim, eu chorei de medo. E sim, foi incrível exatamente por isso.

Eu ainda conseguia escutar alguma coisa. Mas todos os outros sentidos foram retirados de mim( inclusive o tato).

E então, ele saiu do quarto. E eu fiquei puta da vida.

Eu conversei longamente com meu dono, depois que tudo acabou. Eu pensei e pensei sobre meus sentimentos, na tentativa de tentar explicar para mim mesma o que foi aquilo que senti, mas só posso especular.

E o que senti foi o seguinte:

De alguma forma, uma jaula dentro de mim foi aberta. E dali saiu um animal selvagem querendo lutar pela sua vida.

E ao mesmo tempo que a fera queria lutar, havia o bichinho domesticado que esperava que o domador impedisse a fuga. Porque eu queria que ele não me deixasse ir. Nunca mais.

Eu não sei porque fiz o que fiz. Eu não sei porque comecei a tentar desatar as cordas, arrastar a cadeira, gritar sem conseguir. Mas eu queria fazer todas aquelas coisas. Eu precisava fazer.

E então ele voltou.

E perguntou muito calmamente o que era aquilo. “ Você quer se machucar? Quer se colocar em risco?” "Sempre posso tornar as coisas mais difíceis para você…é isso que você quer?"

E me acorrentou no móvel.


E eu instintivamente me acalmei. Porque escutei a voz dele, porque fui contida.

Fui alimentada a pão e água. Mas nessa altura da experiência, tudo era diversão.


Foi tão positivo que fizemos a versão hard e suja. E aí nessa versão eu chorei como um bebê de colo…

Mas a parte dois do relato fica pra depois….


Texto publicado originalmente no Fetlife.

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